09 abril 2009

Delirium

Era uma viagem de carro como tantas outras, por uma Europa estranha que possuía uma enorma fenda que a quebrava ao longo do meridiano que passa por Paris.
Para atravessar esta fenda havia sido construido um túnel, no qual existiam enormes salões, rodeados de espelhos, dos tectos pendiam luxuosos candeeiros de ouro e cristais. O chão de bela mármore não conseguia ser pisado senão com elegância. Quem atravessava estes túneis aproveitava o belo cenário para fazer uma pausa e uma refeição...
Quando de repente sem aviso tropas vestidas de cinzento irrompem, vindas de lado nenhum e de todo o lado.... não havia por onde escapar... as pessoas em fuga, o pânico... tudo parecia mover-se em câmara lenta, parecia ser possível seguir a trajectória das balas com os olhos... e só havia duas hipóteses fugir na direcção da parede de espingardas que vomitavam balas ou fugir na direcção da parede de espelhos e eu não quis encarar as balas de frente, por isso corri em direcçao aos espelhos, via o reflexo das balas que me perseguiam... parecia não haver fuga possível, até que reparo numa fenda entre o chão e parede corri mais um pouco e deixei o meu corpo precipitar-se no abismo... caí por um tempo que parecia interminavel através da escuridão...
E com estrondo sinto o meu corpo cair na água gelada e negra... os meus olhos demoraram um pouco a habituarem-se à falta de luz, mas pouco a pouco comecei a distinguir algumas formas.... rochas, algas que dançavam ao ritmo das correntes e infelizmente vultos que nadavam acima da minha cabeça, que percebi tratarem-se de tubarões martelo...
Felizmente a falta de ar não parecia ser um problema naquele momento e só conseguia pensar que, talvez, se me movimentasse devagar pudesse passar despercebido aos predadores de olhos esbugalhados... reparei ao longe numa escotilha ferrugenta, não me perguntem o que faz uma escotilha perdida no fundo do mar, eu também não me perguntei mas senti que deveria ir para lá, a pressa de chegar a lugar seguro despertou a atenção dos tubarões que começaram a nadar na minha direcção, um deles passou tão perto de mim que com os dentes arrancou a carne da ponta do meu indicador direito, sentia o sangue esvair-se de mim mas consegui abrir a escotilha e não ser o prato principal naquela sala de jantar escura, húmida e fria...
Devo ter desmaiado ao sentir-me seguro...
Só me lembro depois de acordar no convés de um barco, vestido com uma capa impermeavel amarela, ergui-me e senti a brisa misturada com a água salgada bater-me no rosto... olhei para o dedo indicador e única coisa que me ocorreu foi... "Parece que consegui sarar rapidamente..."

Sem comentários: