29 abril 2009

Lento

Lá ao longe na estrada
vinham um burro e um jumento
em conversa ruminada
Encontraram um camponês
Desprovido de talento
Lá ao longe na estrada
Tinham ouvido o seu lamento...

28 abril 2009

Memórias II

Uma das memórias auditivas mais antigas que guardo é o chilrear nos pássaros nos primeiros dias de calor a saudar a primeira luz da manhã...

25 abril 2009

E hoje...

...o que te levaria a fazer uma revolução?



Obrigado...

A todos os que lutaram,

a todos os que sofreram

Obrigado por hoje

Ser mais do que um sonho

a palavra Liberdade

23 abril 2009

São Jorge

Gustave Moreau

No dia 23 de Abril é festejado o dia de São Jorge, padroeiro de Portugal, Inglaterra e Catalunha. Na tradição catalã é o dia em que os cavaleiros ofereciam um rosa à sua dama e recebiam em troca um livro. Um dos motivos que leva a que neste dia seja celebrado também o dia Mundial do Livro. Coincide também este dia com o dia da morte de Shakespeare e Miguel de Cervantes. São Jorge é mundialmente famoso por trespassar um dragão com a sua lança, actividade pouco em voga nos dias que correm. Mas olhando para a simbologia da imagem, acaba por fazer sentido que seja o dia Mundial do Livro, o dragão trespassado, acaba por ser uma vitória da cultura sobre a crendice popular, do homem que evita o sacrifício duma princesa porque tem coragem de enfrentar o monstro que todos julgam invencível...

22 abril 2009

Inocência I

O combóio parou para trocar as pilhas?

Dia da terra...

Imagem do primeiro dia da Terra em 1970...
Acaba por ser um bocado assustador andarmos, há já 39 anos, a destruir conscientemente o nosso planeta.

foto retirada da página da National Geographic

21 abril 2009

A Menina Bom-Sono...

fotografado por Gabriele Popp

...coleccionava estrelas do Mar. Estava aborrecida com as constelações imutáveis do céu, das estrelas preguiçosas que nascem e se põem sempre ordenadas... Então nos seus sonhos pegava nas estrelas do Mar, dava-lhes nomes como "Estrela da Rebentação" ou a "Luz dos Mexilhões"... e mergulhava no Oceano Escuro, espalhava as estrelas para formarem os seus desenhos... Nadava até à superfície e sentava-se numa rocha em frente ao mar, aguardava ansiosa pela Lua, para que iluminasse as estrelas e depois sorria ao ver as figuras nos profundos areais...

18 abril 2009

Caminhando...

"Caminhante, as tuas pegadas
São o caminho e nada mais;
Caminhante não há caminho,
O caminho faz-se ao andar.

Ao andar faz-se o caminho
E ao olhar-se para atrás,
Vê-se a senda que jamais,
Se há-de voltar a pisar.

Caminhante não há caminho,
Somente sulcos no mar."

António Machado

Dois homens estavam perante uma profunda fenda que interrompia o seu caminho. Para que a pudessem atravessar havia uma corda esticada sobre o abismo. Um deles disse que o caminho era impossível... o outro começou a caminhar sobre a corda, equilibrando-se até chegar ao outro lado...

O que afirmava ser um caminho impossível surpreendido perguntou: "Como conseguiste atravessar esse abismo?"

Ao que o outro responde: "Foi fácil caminhei sobre a corda, quando sentia o corpo cair para direita, inclinava-me para a esquerda e quando sentia que o meu corpo caía para a esquerda inclinava-o para a direita".

É um conto oriental que cito de memória, talvez não seja bem assim mas é assim que o recordo...


Memórias I

A memória olfactiva mais atinga que guardo é o cheiro a terra molhada dos jardins da minha infância...

17 abril 2009

Às vezes...

...dá vontade de caminhar pelo mundo como se fôssemos invisíveis, passar como um espectro por entre as multidões... ser atravessado por olhares, tentar descortiná-los... e seguir em frente, perseguindo quem vagueia pelas ruas, ver para onde vão, como dão os passos, como seguram o guarda-chuva... sorrir invisível quando correm trapalhões para um autocarro apressado... corpos dominados pela preguiça, músculos acomodados ao repouso... os impulsos eléctricos do cérebro dizem-lhes "corram, corram..."... como patos que querem aprender a voar..

16 abril 2009

Nuvens

"-Bem! Que amas tu então, extraordinário estrangeiro?
-Amo as nuvens...as nuvens que passam...
Além...as maravilhosas nuvens!"

Baudelaire

Vi as nuvens reflectidas na vidraça do outro lado da rua, formavam uma cabeça enorme com duas caras, no rosto notava-se a expressão de quem sopra... e arrastavam-se no céu transportando a chuva...

"BASTA-ME...
Basta-me um mínimo:
Lasca de pão,
Gota de leite
E, céu acima,
Nuvens alvíssimas."

KHLÉBNIKOV

15 abril 2009

Dizem que uma imagem vale mil palavras...

...por vezes são necessários mil gestos para demonstrar o significado de uma palavra...

Quadrilha

Porque outro dia falei deste poema do Carlos Drummond de Andrade, pus-me a imaginar em quem seriam aqueles personagens de amores desencontrados:
O J. Pinto Fernandes, seria talvez um jovem abastado, casou-se com Lili, filha também de pais ricos, mais do que um casamento foi uma fusão empresarial. Com o tempo descobriram como se amava, um dia ele deu-lhe uma flor e ela corou...
Joaquim era dado a depressões, quando soube do casamento da Lili, não aguentou, procurou conforto no fundo das garrafas de vinho, mas como não encontrou aí as suas respostas acabou por procurá-la na ponta de uma corda... Lili nunca soube disto, aliás, nunca soube sequer da existência do Joaquim.
Maria, que sempre tinha amado Joaquim mas a quem ele nunca ligou nenhuma porque só pensava na Lili não suportou o fim de Joaquim, sem respostas no mundo material, refugiou-se num convento em procura de paz espiritual, não aguentou a severidade daquela vida enclausurada e acabou por sair, optando por viver solteira até ao final da vida e conversando com Joaquim como se ele estivesse presente.
Raimundo quando soube que a Maria amava o Joaquim, decidiu não interferir e quis levar uma vida de aventura, fez uma jangada de palitos para atravessar o Golfo do México mas escolheu mal a altura do ano, apanhou a época dos tornados, na sua laje escreveram:

"Aqui jaz Raimundo,
morreu ao dar a volta ao mundo..."

Teresa à semelhança de Maria procurou o conforto na vida espiritual, mas encontrou-se neste caminho, acabou por ir trabalhar como missionária para países Africanos.
O João emigrou para os EUA, mais precisamente para Hollywood, levava uma vida modesta de actor mas queria ser uma estrela, conseguiu chegar aos maiores estúdios... mas apenas a servir cafés e bolos...

Jolly Roger


Os piratas tinham por hábito desfraldar uma bandeira com uma caveira com duas tíbias cruzadas por baixo. Faziam-no para inspirar medo nas tripulações dos outros navios, este fim-de-semana ao ler um artigo no jornal descobri que podia ter duas cores... Negra se a intensão fosse o saque e uma certa dose de violência ou vermelha, sendo que neste caso não haveria misericórdia. Daí uma das teorias é que o "Old Roger"(o Diabo), estaria mais alegre("jolly", por derivação fonética do francês) e por isso pouparia uma vidas...

Mas a verdade é que o Jolly Roger podia ser apenas um esqueleto dado à brincadeira e que gostava de usar as tíbias como laço... aliás, obti uma imagem de corpo inteiro dele para que se veja confirmada esta teoria...

12 abril 2009

Assim como assim

E assim como assim,

ainda ontem era ontem 

antes de hoje ser hoje,

e porque nada do que foi ontem

pode realmente ser hoje

Então hoje é tudo novo,

porque se ontem não foi

hoje pode na verdade ser

porque hoje ainda está para acontecer

mesmo antes de o ser...

E se ontem foi mau

hoje pode ser bom

e se ontem não era,

hoje pode ser... porque não?

E amanhã? 

amanhã logo se verá como é,

porque os amanhã são só os hoje por chegar... 

Então até hoje,

e hoje nunca é muito tarde...

Porque...

...estava a chover e eu disse que era feliz,

vestiram-me a camisa com mangas de apertar atrás das costas...

Enclausuraram-me os braços

Mas não me cortaram as asas...

11 abril 2009

Uma banda sonora

Tenho andado a ouvir no carro música interpretada pelo Ravi Shankar, Ragas, músicas tradicionais indianas... é engraçado, através do imaginário que despertam, parece que o ambiente fica logo inundado por aromas de incenso e que cada pequena viagem se torna uma viagem espiritual... a sonhar de olhos abertos com terras distantes...

09 abril 2009

Delirium

Era uma viagem de carro como tantas outras, por uma Europa estranha que possuía uma enorma fenda que a quebrava ao longo do meridiano que passa por Paris.
Para atravessar esta fenda havia sido construido um túnel, no qual existiam enormes salões, rodeados de espelhos, dos tectos pendiam luxuosos candeeiros de ouro e cristais. O chão de bela mármore não conseguia ser pisado senão com elegância. Quem atravessava estes túneis aproveitava o belo cenário para fazer uma pausa e uma refeição...
Quando de repente sem aviso tropas vestidas de cinzento irrompem, vindas de lado nenhum e de todo o lado.... não havia por onde escapar... as pessoas em fuga, o pânico... tudo parecia mover-se em câmara lenta, parecia ser possível seguir a trajectória das balas com os olhos... e só havia duas hipóteses fugir na direcção da parede de espingardas que vomitavam balas ou fugir na direcção da parede de espelhos e eu não quis encarar as balas de frente, por isso corri em direcçao aos espelhos, via o reflexo das balas que me perseguiam... parecia não haver fuga possível, até que reparo numa fenda entre o chão e parede corri mais um pouco e deixei o meu corpo precipitar-se no abismo... caí por um tempo que parecia interminavel através da escuridão...
E com estrondo sinto o meu corpo cair na água gelada e negra... os meus olhos demoraram um pouco a habituarem-se à falta de luz, mas pouco a pouco comecei a distinguir algumas formas.... rochas, algas que dançavam ao ritmo das correntes e infelizmente vultos que nadavam acima da minha cabeça, que percebi tratarem-se de tubarões martelo...
Felizmente a falta de ar não parecia ser um problema naquele momento e só conseguia pensar que, talvez, se me movimentasse devagar pudesse passar despercebido aos predadores de olhos esbugalhados... reparei ao longe numa escotilha ferrugenta, não me perguntem o que faz uma escotilha perdida no fundo do mar, eu também não me perguntei mas senti que deveria ir para lá, a pressa de chegar a lugar seguro despertou a atenção dos tubarões que começaram a nadar na minha direcção, um deles passou tão perto de mim que com os dentes arrancou a carne da ponta do meu indicador direito, sentia o sangue esvair-se de mim mas consegui abrir a escotilha e não ser o prato principal naquela sala de jantar escura, húmida e fria...
Devo ter desmaiado ao sentir-me seguro...
Só me lembro depois de acordar no convés de um barco, vestido com uma capa impermeavel amarela, ergui-me e senti a brisa misturada com a água salgada bater-me no rosto... olhei para o dedo indicador e única coisa que me ocorreu foi... "Parece que consegui sarar rapidamente..."

08 abril 2009

E porque falei em Amor..

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história

de, Carlos Drummond de Andrade

o Amor...

Logo pelo título pode-se partir do princípio que aí vem post lamechas.. é possível...
Mas vem isto a propósito dum filme que vi na passada segunda feira, o aclamado slumdog millionaire, já tinha ouvido dizer mal mas há sempre quem goste de falar mal do que é reconhecido e falaram-me bem também, por isso nada melhor do que ver para tirar dúvidas... é um filme que fala sobre a India, a India dos bairros de lata, dos miúdos que crescem num dos países mais ricos culturalmente mas que pensam que o Taj-Mahal é um hotel de 5 estrelas.. A fotografia é muito boa, com imagens de arrepiar, de dar um nó ao estômago... havia cenas que sentia as pessoas sentadas nas cadeiras vizinhas a contorcerem-se, não é fácil ficar indiferente...
E todo este documentário sobre uma India mais pobre, vai rodando em torno dum personagem que participa num concurso, não pelo prémio monetário... mas por Amor... ele ao longo do filme limita-se a amar e a perseguir esse sonho, a amar duma forma que hoje em dia muita gente tem vergonha de assumir, do Amor pelo Amor... Sem esquemas, sem jogos... talvez seja o que leva muita gente a criticar o filme, por dar talvez um toque mais "piroso"... mas talvez isso não seja culpa da história mas da forma como hoje em dia se olha para o Amor.

05 abril 2009

Panis et circensis

A expressão aclamada pelo Império Romano, com pão e circo o povo estaria entretido e na mão manipulativa de quem os governava...
Ontem experimentei música e circo... ou melhor música no Circo, no Theatro Circo... Para ouvir um daqueles músicos cuja música não nos entra só pelos ouvidos, mas cujas notas entoam em toda a superfície do nosso corpo e um arrepio percorre a nossa coluna... e fechando os olhos se sente aquele estado de abandono que faz parecer que todo o Universo em volta se desvanece... depois num ponto a música termina e irrompem aplausos e recordamo-nos que estamos rodeados de gente e no fim só é pena que termine... mas fica a agradavel recordação.



02 abril 2009

Divagações I

Gosto destes primeiros entardeceres de primavera... Agora que passou o iIverno, começam-se a dissipar da memória os finaiss de tarde já sem luz...
Passando junto ao mar vêem-se as ondas pintadas em tons de prata a vir saudar os areais... O Sol laranja vai mergulhando para o seu descanso, amanhã de novo regressará, à medida que a sua luz se desvanece começam-se a ver as estrelas que nascem na abóboda celeste, primeiro parece um manto púrpura que depois se vai pintando de tons mais escuros...
Aqui e ali as gaivotas rasgam o céu...
A cintura de orion ilumina-se no céu, um pouco mais perto do horizonte brilha Sirius...
E lembro-me das palavras de Caeiro:

"Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."